Créditos: Reprodução/redes sociais
Nós, que compomos o Controle Social do Comitê Estadual de Estudos de Mortalidade Materna - CEEMM-PE e o Fórum de Mulheres de Pernambuco - FMPE, soubemos via mídia, e posteriormente confirmando junto a Escola Territórios Afetivos - coletivo feminista de educação popular, cultura e saúde da mulher, da morte de Paloma Alves Moura, 46 anos, cheff de cozinha, mãe e vó, ocorrida na quarta-feira (8/10/25) no Hospital e Maternidade Tricentenário, em Olinda, supostamente por choque hipovolêmico - perda significativa de volume de sangue - decorrente de uma hemorragia vaginal.
Segundo informações das amigas que acompanharam a vítima, Paloma, chegou ao hospital por volta das 8h da manhã, e foi internada com sangramento vaginal intenso. Ao ser avaliada pela equipe, que suspeitou de abortamento em curso, foi solicitado um exame BHCG para confirmação ou não de uma gravidez - ainda que Paloma e suas amigas tenham enfatizado que ela não estava nem tinha estado gestante.
Enquanto aguardava o resultado, que segundo a equipe levaria de 3 a 4 horas para ser emitido, a hemorragia chegou ao ponto de Paloma encharcar três lençóis de sangue, pois os absorventes não foram suficientes para suportar o quadro hemorrágico.
Assim, seu quadro geral seguiu se agravando, de forma que sua acompanhante sugeriu que fosse realizada sua transferência para uma unidade de maior complexidade.
A transferência foi negada pela equipe sob o argumento de que qualquer medida só poderia ser tomada após o resultado do exame, não sendo realizada nenhuma intervenção ou tratamento para conter a hemorragia. E Paloma seguiu perdendo sangue ao longo do dia, diante de toda a equipe hospitalar e de suas amigas que seguiram implorando socorro.
Ainda de acordo com sua amiga, sempre que ela solicitava atenção da equipe para com Paloma, “informavam que os médicos estavam ocupados em partos”. À medida que o tempo foi passando Paloma “começou a ficar meio roxa, entraram na sala e colocaram o aparelho para ela respirar com o oxigênio”.
Nesse momento, Paloma perguntou porque seu coração estava tão agitado, fora do normal. Ao que “disseram que era porque ela estava nervosa”. A amiga em questão revezou o lugar de acompanhante com a filha de Paloma.
Paloma teve duas paradas cardíacas seguidas. E nem assim recebeu tratamento que contivesse a hemorragia. Infartou após perder sangue por quase 10h, diante dos olhos da sua filha e de toda uma equipe hospitalar, que negou cuidados imediatos dentro de um hospital credenciado pelo SUS para atender emergências obstétricas/ginecológicas.
Diante dessa grave violação do direito à saúde e à vida, é importante questionar:
● E ainda que fosse um aborto, Paloma merecia morrer?
● Até que ponto a suspeita de abortamento em curso contribuiu para a negligência denunciada?
● Por que não fazer outros exames que pudessem esclarecer o diagnóstico e orientar o tratamento, principalmente diante da intensidade do sangramento?
● Por que esperar tanto tempo para atender uma mulher com sangramento vaginal intenso, grávida ou não?
● Por que não resolver de forma emergencial as condições gerais da mulher que sangrava?
● Quais os recursos, sejam humanos ou materiais, que faltaram para uma assistência de qualidade?
● Quais os protocolos utilizados pelo Hospital Tricentenário para o acolhimento e terapêutica de uma mulher em idade fértil com sangramento vaginal intenso?
Esta é uma morte de uma mulher em idade fértil, e mesmo que não seja classificada como materna, pode ser caracterizada como uma terceira demora, ou seja, aquela que ocorre dentro dos serviços de saúde por atraso no recebimento de cuidados de saúde adequados.
A literatura e vivência dos profissionais mostram que as mulheres com suspeita ou diagnóstico de abortamento são preteridas em relação às mulheres com gravidez em curso. Da mesma forma que mulheres em idade fértil com dor abdominal acabam morrendo por hemorragia decorrente de gravidez ectópica por falta de diagnóstico e agilidade no tratamento.
Até quando as mulheres vão ser “descuidadas” em relação a sua saúde reprodutiva? Paloma precisa ser a última. Exigimos um SUS sem misoginia. Ficar viva é nosso direito.
Assinam a presente carta:
1. Fórum de Mulheres de Pernambuco
2. Controle Social do Comitê Estadual de Estudo da Mortalidade Materna de PE
3. Escola Territórios Afetivos - educação popular, cultura e saúde da mulher
4. A casa Lua - Saberes e práticas integrativas
5. Articulação Aids em Pernambuco
6. Associação Brasileira de Lésbicas - ABL
7. Associação Juntos pela Inclusão PCD
8. APPS – Associação Pernambucana das Profissionais do Sexo
9. Atelier das Bruxas
10. Casa Herbert de Souza
11. Casa Lilás
12. Coletiva Feministas Antirracistas Socialistas
13. Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro - CFCAM-PE
14. Coletivo de Mulheres da CUT-PE
15. Coletivo de Mulheres de Jaboatão
16. Coletivo Juntas
17. Centro Nordestino de Medicina Popular
18. Coletivo Mulher Vida
19. Coletivo de Mulheres da Horta Comunitária Rui Frasão
20. Coletivo de Mulheres Varzeanas
21. Coletivo Vozes Marias
22. Escola de Formação Quilombo dos Palmares
23. Fórum de Mulheres Cristãs de Pernambuco
24. Fórum de Mulheres de Paulista
25. Fórum da Diversidade do Cabo
26. Frente Nacional de Mulheres no Hip Hop em Pernambuco
27. Frente Estadual pela Legalização e Descriminalização do Aborto
28. Gabinete da Deputada Dani Portela
29. Gabinete da Deputada Rosa Amorim
30. Gabinete da Vereadora Eugênia Lima
31. Gestos - Soropositividade, Comunicação e Gênero
32. Grupo Cactos Gênero e Comunicação
33. Grupo Curumim - Gestação e Parto
34. Grupo de Mulheres Felipa de Sousa
35. Grupo de Trabalhos em Prevenção Posithivo – GTP+
36. Grupo Mulher Maravilha
37. Instituto Brasileiro de Lésbicas
38. Marcha Mundial de Mulheres - PE
39. Movimento Brasil Livre - MBL
40. Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas
41. Rede Afro LGBT
42. Mulher Art e Ação
43. Mulheres de Terreiro de Pernambuco
44. Rede de Mulheres Negras de Pernambuco
45. Rede Nacional de Feministas Antiproibicionistas – RENFA
46. Rede um Grito pela Vida Núcleo Recife - PE
47. Setorial de Mulheres do PSOL Pernambuco
48. SOS Corpo
49. Troça carnavalesca olindense Bota a Xota no Sol
50. Uiala Mukaji Sociedade das Mulheres Negras de Pernambuco
51. União Brasileira de Mulheres - UBM.
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