Samuel Herculano, presidente do Diretório Estadual do PSOL-PE
Em Pernambuco, 2025 chega ao fim mostrando que a dor negra continua sendo tratada pelo Estado como rotina. O novo relatório Pele Alvo, da Rede de Observatórios da Segurança, revela que mesmo com queda no número de mortes por intervenção policial, 92,6% das vítimas continuam sendo pessoas negras. A cor do alvo não mudou. O dedo no gatilho tampouco. E o recado do Estado permanece: seguimos sendo os corpos alvo da sociedade.
Essa realidade não é coincidência: é projeto. Fanon já apontava que o negro, no mundo colonial, não é visto como sujeito, mas como objeto: “chega ao mundo como um objeto entre objetos”. Séculos depois, Mbembe descreve essa mesma engrenagem como necropolítica: o poder de decidir quem pode viver e quem deve morrer. Em Pernambuco, essa máquina segue ativa. A juventude negra é ceifada de forma sistemática: 63% das vítimas tinham menos de 29 anos.
Os casos emblemáticos, como a chacina de Camaragibe em 2023 e o assassinato de Marcos Laurindo em 2013, mostram que quando há pressão social, punição vem. Quando não há, o silêncio é regra. Nesse sistema, nossas mortes são justificadas antes mesmo de serem investigadas. A cor da pele vira sentença. O CEP, prova. A juventude, agravante. É a confirmação do que Fanon escreveu: “O negro não é um homem”, ao menos aos olhos de um humanismo branco que define quem merece dignidade.
Mas a história do nosso povo nunca foi só feita de luto, é feita de luta. E se a violência policial é parte de uma estrutura, a nossa resistência negra também é. Dos quilombos aos slams, das periferias às universidades, das mães de vítimas da polícia aos movimentos de defesa dos direitos humanos, seguimos rompendo o cerco da morte com ação, política e organização. Como dizem os Racionais na icônica canção: “eu sei quem trama e quem tá comigo”. E é esse senso de coletivo que mantém o nosso povo vivo.
No entanto, é preciso dizer com todas as letras: enquanto a segurança pública de Pernambuco continuar operando sob a lógica da guerra às drogas, da criminalização da pobreza e da militarização das relações com o território, os números não vão mudar. Reduzir mortes um ano não significa vitória; significa apenas que a máquina ajustou seu ritmo.
Por isso, em 2025, o PSOL Pernambuco reafirma: não existe democracia possível sem justiça racial. Não existe projeto de futuro onde jovens negros tenham expectativa de vida tão baixa quanto sua esperança de direitos. Não existe segurança pública verdadeira quando a polícia atua como tropa de ocupação e não como proteção.
Se o “homem predador”, descrito por Vergès, ainda tenta transformar nossos corpos em objetos descartáveis, então nossa resposta precisa ser a luta organizada. É tempo de disputar orçamento, disputar narrativa, disputar projeto de Estado. É tempo de barrar a política de morte e construir, com coragem e radicalidade, uma política de vida.
Fanon escreveu que a tarefa do nosso tempo é fazer “surgir um homem novo, livre do fardo da raça e desembaraçado dos atributos da coisa”. Em Pernambuco, essa tarefa continua urgente, inacabada e cotidiana.
Se é verdade que seguimos sendo a pele alvo, é também verdade que somos povo que rompe o silêncio em marcha. A pergunta que precisamos fazer é: até quando? E a resposta que oferecemos é a mesma que vem das ruas, das periferias e da história: enquanto houver racismo, haverá luta!
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